terça-feira, 24 de abril de 2012

Como trabalhar em grupo

A construção do grupo
Um grupo se constrói através da constância da presença de seus elementos, na constância da rotina e de suas atividades.
Um grupo se constrói na organização sistematizada de encaminhamentos, intervenções por parte do educador/coordenador, para a sistematização do conteúdo em estudo.
Um grupo se constrói no espaço heterogêneo das diferenças entre cada participante: da timidez de um, do afobamento do outro; da serenidade de um, da explosão do outro; da seriedade desconfiada de um, da ousadia do risco do outro; da mudez de um, da tagarelice de outro; do riso fechado de um, gargalhada debochada do outro; dos olhos miúdos de um, dos olhos esbugalhados do outro; de lividez de um, do encarnado do rosto do outro.
Um grupo se constrói enfrentando o medo que o diferente, o novo provoca, educando o risco de ousar.
Um grupo se constrói não na água estagnada do abafamento das explosões, dos conflitos, no medo em causar rupturas.
Um grupo se constrói, construindo o vínculo com a autoridade entre iguais.
Um grupo se constrói na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade e do prazer.
A vida de um grupo tem vários sabores... No processo de construção de um grupo, o educador/coordenador conta com vários instrumentos que favorecem a interação entre seus elementos e a construção do círculo com ele.
A comida é um deles.
É comendo junto que os afetos são simbolizados, expressos, representados, socializados.
Pois comer junto, também é uma forma de conhece o outro e a si próprio.
A comida é uma atividade altamente socializadora num grupo, porque permite a vivência de um ritual de ofertas. Exercício de generosidade. Espaço onde cada um recebe e oferece ao outro o seu gosto, seu cheiro, sua textura, seu sabor.
Momentos de cuidados, atenção.
O embelezamento da travessa em que vai o doce, a “forma de coração” do bolo, a renda bordada no prato... Frio ou quente?
Que perfume falará de minhas emoções? Doce ou salgado?
Todos esses aspectos compõe o ritual do comer junto, que é um dos ingredientes facilitadores da construção do grupo.
Um grupo se constrói com ação exigente, rigorosa do educador. Jamais com a cumplicidade auto-complacente, com o descompromisso do educando.
Um grupo se constrói no trabalho árduo de reflexão de cada participante e do educador.
No exercício disciplinado de instrumentos metodológicos, educa-se o prazer de se estar vivendo, conhecendo, sonhando, brigando, gostando, comendo, bebendo, imaginando, criando; e aprendendo juntos, num grupo.
Vida de grupo


1. Vida de grupo tem:

-Alegria, riso aberto, contentamento, folia, concentração.
-Medo, dor, choro, conflito, perdição, desequilíbrio, hipótese falsa, pânico.
-Entendimento, diferenças, desentendimento, briga, busca, conforto.
-Silêncios, fala escondida, berro, fala oca, fria, fala mansa.
-Generosidade, escuta, olhar atento, pedido de colo.
-Ódio, decepção, raiva, recusa, desilusão.
-Amor, bem querer, gratidão, afago, gesto amigo de oferta.

2. Vida de grupo tem vários sabores

-Quente, frio, no ponto.
-Doce? Melado? Cheiro de hortelã?
-Castanha, chocolate, perfume de canela.
-Salgado? Gelado, cheiro de maçã?
-Palmito, frango, laranja.
-Perfumes vindo da janela, lembrando o cheiro da vida vivida, gosto de  hortelã.

3. Vida de grupo dá muita ansiedade quando:
Não recebo o produto do conhecimento mastigado, pronto, pelo educador/coordenador.

4. Vida em grupo dá muita frustração
Porque, enquanto educador, tenho de romper com meu acomodamento quieto, autoritário... Esperando “as ordens” docoordenador/diretor... E quando elas não vêm, descubro que SÓ EU posso LUTAR – CONQUISTAR, CONSTRUIR, meu ESPAÇO...
O educador pode possibilitar o rompimento da quietude, mas NÃO A AÇÃO DO CONSTRUIR, do conhecer..

5. Vida de grupo dá muito medo
Porque através do outro constato que sou “dono” do meu saber (e do meu não saber). Sou dono de minha incompetência, e portanto, RESPONSÁVEL pela minha BUSCA-PROCURA de conhecer, de construir minha competência.

6. Vida de grupo dá desânimo

Porque em muitas situações nos confrontamos com o caos: acúmulo de temas, processos de adaptação, hipóteses heterogêneas.
Caos criador que nos demanda nova re-estruturação –organização. Procurando da forma original própria e única adequada ao novo momento.
Vida de grupo (ah!... vida de grupo...)

7. Vida de grupo dá muito trabalho e muito prazer
Porque eu não construo nada sozinho; tropeço a cada instante com os limites do outro e os meus próprios, na construção da vida, do conhecimento, da nossa história.
Que possamos fazer dessa leitura um aprendizado para a vida. “EM grupo”.

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