Sete da manhã.
Marilda tinha acabado de passar um pano nas carteiras toscas, depois de varrer
a sala de terra batida. Daqui a pouco as crianças começariam a chegar, vindas
dos sítios das redondezas. O sol, já meio alto, deixava antever que o dia seria
quente.
Fazia oito meses que
lecionava naquela escolinha rural. No início teve receio de lidar com crianças
de diversas idades, mas eram todos tão bonzinhos e interessados em aprender que
a tarefa ficou mais fácil. Temera ainda não se acostumar com a vida no campo,
com a falta de conforto, mas logo se adaptou, tanto que nem se lembrava mais da
agitação da cidade.
Simplesmente adorava lecionar. Vibrava
quando seus alunos apresentavam progressos ou quando se lembravam dela com um
pequeno mimo.
As primeiras crianças foram chegando. Zuleica e Soleco, filhos de seu Lindolfo, eram sempre os primeiros, com sua merenda guardada na trouxinha de pano.
Começou a aula. Marilda notou que o Tonho não tinha vindo. No dia anterior também não viera. Isso a deixava triste. Sempre que começava a roçada, alguns alunos deixavam de frequentar a escola, tinham que ajudar os pais.
Uma aluna, magrinha e sardenta, levantou a mão:
As primeiras crianças foram chegando. Zuleica e Soleco, filhos de seu Lindolfo, eram sempre os primeiros, com sua merenda guardada na trouxinha de pano.
Começou a aula. Marilda notou que o Tonho não tinha vindo. No dia anterior também não viera. Isso a deixava triste. Sempre que começava a roçada, alguns alunos deixavam de frequentar a escola, tinham que ajudar os pais.
Uma aluna, magrinha e sardenta, levantou a mão:
- Não é aribu que se fala, Lurdinha. É
urubu.
- Não, é aribu mesmo. Ele não fica no ar?
Marilda segurou o sorriso. Criança
tinha cada uma!
Às nove horas chegou um homem magro, de
bigode. Tirou o chapéu, cumprimentou a professora, identificou-se como o tio de
Tonho e perguntou à classe se alguém tinha visto o garoto. Diante da resposta
negativa, disse que o menino estava sumido desde a véspera e que os pais
pensavam que talvez tivesse dormido na casa de algum colega.
A professora ficou preocupada. Achava
que ele estava ajudando o pai na roça, mas qual! Estava desaparecido. Onde
poderia estar?
Lembrou-se da lagoa onde os meninos
costumavam nadar. E se tivesse se afogado? Não, ele sabia nadar bem. E se
tivesse sido sequestrado? Não, os pais eram uns pobres que arrendavam uma
terrinha na Santa Luzia; não tinham quase o que comer quanto mais pagar
resgate. Onde estaria, meu Deus do céu?
A aula foi interrompida e saíram todos à procura de Tonho. Foram de sítio em sítio perguntando por ele. Em vão. Ninguém sabia o seu paradeiro.
Quando passava perto da matinha do ribeirão, Marilda notou que, de fato, havia muitos urubus voando sobre as árvores. Teve um pressentimento, um pensamento ruim. Chamou o tio de lado e pediu-lhe que entrasse com ela na mata. Antes, porém, disse às crianças que continuassem a busca, que fossem até o próximo sítio.
A aula foi interrompida e saíram todos à procura de Tonho. Foram de sítio em sítio perguntando por ele. Em vão. Ninguém sabia o seu paradeiro.
Quando passava perto da matinha do ribeirão, Marilda notou que, de fato, havia muitos urubus voando sobre as árvores. Teve um pressentimento, um pensamento ruim. Chamou o tio de lado e pediu-lhe que entrasse com ela na mata. Antes, porém, disse às crianças que continuassem a busca, que fossem até o próximo sítio.
Entraram na mata. Tudo quieto, nenhum
barulho. Andaram uns cem metros e encontraram o menino caído ao lado de um pé
de manacá. No caderno, aberto e caído a uns vinte centímetros do corpo, havia
algumas palavras escritas com letra irregular e infantil.
Marilda pegou o caderno e, emocionada,
leu a última mensagem do menino: "Para minha querida professora dou esta
flor com muito amor".
Feliz retorno a todas!
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