O que é Educação Infantil?
Historicamente,
no Brasil podemos dizer que, em nosso país, existem dois tipos de Educação
Infantil, constituindo um sistema educacional que visa, desde a mais tenra
idade, reforçar a exclusão e a injustiça social presente na economia
capitalista: há a "Educação Infantil dos Pobres" e a "Educação
Infantil dos Ricos".
A
"Educação Infantil dos Pobres" baseia-se na concepção de que as
crianças das classes trabalhadoras têm deficiências de todos os tipos
(nutricionais, culturais, cognitivas, etc.), as quais precisam ser compensadas
pela escola, a fim de que, no futuro, as crianças possam ter alguma instrução
e, assim, desempenhar o seu papel na sociedade:
As
mães da classe trabalhadora precisam de algum lugar onde possam deixar seus
filhos durante o dia, e para isto foram criadas as creches e pré-escolas
públicas, local onde as crianças poderiam suprir as carências provenientes do
seu meio ambiente social. Visto que tais crianças são consideradas muito
"carentes", qualquer atendimento dado a elas é satisfatório, pois já
pode ser visto como uma melhoria nos estímulos que recebem no seu meio ambiente
natural.
Deste
modo, cria-se um atendimento na Educação Infantil onde encontramos: classes
superlotadas, poucos adultos para atender a um número grande de crianças; espaços
físicos improvisados e inadequados, onde as crianças não podem se movimentar
livremente (porque o espaço é pequeno e/ou perigoso), bem como não encontram
estímulos ou desafios; despreocupação com os aspectos essenciais da Educação
Infantil, o educar e o cuidar (indissociáveis um do outro), afinal, a criança
está ali apenas para que a sua mãe possa trabalhar; adultos que atuam junto às
crianças, com pouca ou nenhuma formação pedagógica, já que não são considerados
como educadores, mas como babás.
Do
outro lado, temos a "Educação Infantil dos Ricos". Ela também foi
criada devido à necessidade que as mulheres/mães, hoje em dia, têm de trabalhar
fora de casa, mas apresenta concepções e práticas diferentes. Os pais, neste caso,
pagam caro para que as crianças freqüentem as "escolinhas", por isto
as instituições esforçam-se para atender aos anseios das famílias, que esperam
garantir a melhor educação possível para os filhos, preparando-os para as
provas que o futuro reserva, como o vestibular e o mercado de trabalho.
Aqui
a Educação Infantil tem a função de preparar a criança para o ingresso, com
sucesso, na primeira série do Ensino Fundamental. Por isto é preciso
desenvolver as habilidades cognitivas: treina-se a coordenação motora;
ensina-se a criança para reconhecer e copiar letras e números; e, a fim de
promover a boa saúde das crianças, ensina-se hábitos de higiene e boas
maneiras. As escolas têm infra-estrutura muito rica, com piscinas, quadras de
esportes e salas de informática, além de estarem sempre limpas, e com murais
enfeitados.
Para
mostrar o desenvolvimento dos alunos, as escolas procuram organizar eventos
para as famílias, como festas onde as crianças apresentam números artísticos,
acerca de temas relativos às "Datas Comemorativas". Ou realizam
reuniões pedagógicas onde entregam aos pais os "trabalhinhos" das
crianças: tarefas mimeografadas, o livro didático preenchido, e as atividades
artísticas, além de relatórios sobre as crianças (sob a forma descritiva ou
folhas do tipo questionário de múltipla escolha, preenchidos pelo professor).
Entretanto,
podemos perguntar: Serão estas propostas pedagógicas suficientes para garantir
o direito das crianças a uma Educação Infantil que estimule o seu
desenvolvimento integral?
"A
função da Educação Infantil não é ser um substituto para uma mãe ausente, mas
suplementar e ampliar o papel que, nos primeiros anos da criança, só a mãe
desempenha. Uma Educação Infantil , ou jardim de infância, será possivelmente
considerada, de modo mais correto, uma ampliação da família ‘para cima’, em vez
de uma extensão ‘para baixo’ da escola primária." (WINNICOTT, 1982, p.
214)
Winnicott
aponta um caminho diferente. Quando afirma que a Educação Infantil seria melhor
considerada uma "ampliação para cima da família", o autor pretende
apontar para o fato de que, ao entrar na escola, a criança não deixa de lado a
vida afetiva (centrada sobretudo na mãe) que vivia no lar. Ao contrário, ela
está ali para ampliá-la, relacionando-se com os educadores e com outras
crianças, de diversas idades, com valores culturais e familiares diferentes dos
seus. É importante, também, ressaltar que qualquer aprendizagem está
intimamente ligada à vida afetiva. Por tanto não cabe à escola minimizar esta
vida afetiva, mas sim ampliá-la, criando um ambiente sócio-afetivo saudável
para a criança na escola.
Acerca
destas tarefas de socialização, de natureza, sobretudo afetiva, podemos também acrescentar:
“As
tarefas das crianças pequenas nas creches e pré-escolas são muitas e de grande
importância para o seu desenvolvimento cognitivo e emocional, e o principal
instrumento de que utilizam são as brincadeiras”. Nesses locais, elas têm de
aprender a brincar com as outras, respeitar limites, controlar a agressividade,
relacionar-se com adultos e aprender sobre si mesmas e seus amigos, tarefas
estas de natureza emocional.
“O
fundamental para as crianças da educação Infantil é que elas se sintam
importantes, livres e queridas.” (LISBOA, 2001)
Entretanto,
a Educação Infantil não se restringe ao aspecto social e afetivo, embora eles
sejam de fundamental importância para garantir as demais aprendizagens. Porém,
qual tipo de organização pedagógica
poderá permear estas aprendizagens?
"A
escola dos pequeninos em de ser um ambiente livre, onde o princípio pedagógico
deve ser o respeito à liberdade e à criatividade das crianças. Nela, os
pequeninos devem poder se locomover, ter atividades criativas que permitam sua
auto suficiência, e a desobediência e a agressividade não devem ser coibidas e,
sim, orientadas, por serem condições necessárias ao sucesso das pessoas." (LISBOA, 1998, p. 15)
Entendemos
que a organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil deve ser
orientada pelo princípio básico de procurar proporcionar, à criança, o
desenvolvimento da autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas
próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociadas
com outras pessoas, sejam eles adultos ou crianças. Obviamente, esta construção
não se esgota no período dos 0 aos 5 anos de idade, devido às próprias
características do desenvolvimento infantil. Mas tal construção necessita ser
iniciada na Educação Infantil.
Consideramos
que a Educação Infantil tradicional não procura desenvolver a autonomia, mas
sim a heteronomia, ou seja, a dependência, da criança, de regras e meios de
ação ditados pelo adulto. A heteronomia é característica do pensamento das
crinças de 0 a 5 anos, entretanto, a escola tradicional a reforça. A criança,
neste modelo pedagógico, deve sempre esperar a ordem do adulto: ver o modelo do
exercício mimeografado antes de fazê-lo; ver a maneira correta de realizar um
trabalho manual antes de iniciá-lo; esperar que o adulto resolva o conflito com
a outra criança (premiando uma das partes e repreendendo a outra); esperar a
ordem para que possa levantar-se da cadeirinha e movimentar-se (como o adulto
pede), como bem relata Lisboa:
"Chega
ao colégio e - surpresa! - pedem-lhe que faça um navio. A coisa que ele mais
gosta: desenhar. Faz um navio lindo, redondo como a lua, cheio de árvores no
interior e com dois bichos nadando - elefantes, diz ele. A professora olha a
obra de arte, pergunta o que é e recebe a resposta: ‘Um navio!’ Carinhosamente,
a professora vai até o quadro e desenha um navio clássico, com velas, proa e
popa, um digno navio de adulto, e diz: ‘João Paulo, isto é um navio e elefante
não nada!’ João Paulo havia feito um navio original, diferente dos outros,
lindo, nunca feito por alguém. Havia criado o primeiro navio redondo, e a
professora, que seguramente não havia lido O Pequeno Príncipe, deu-lhe uma
lição de como as pessoas devem ser bitoladas desde criancinhas." (LISBOA, 1998, p. 15)
Certamente,
este não é o melhor modelo pedagógico, se pretendemos o desenvolvimento
integral e a construção da autonomia infantil. Para que a criança possa
alcançar estes objetivos o modelo pedagógico deve proporcionar-lhe situações em
que ela possa vivenciar as mais diversas experiências, fazer escolhas, tomar
decisões, socializar conquistas e descobertas. Vale ressaltar que não se trata
de um trabalho espontaneísta, onde o adulto não organiza objetivamente as
atividades oferecidas às crianças, assumindo um papel de mero espectador, que
observa e espera o desenvolvimento dos pequeninos.
Trata-se
de uma organização do trabalho pedagógico em que o adulto/educador e as
crianças têm ambos, papéis ativos. Cabe ao educador pesquisar e conhecer o
desenvolvimento infantil a fim de poder organizar atividades onde a criança
possa experimentar situações as mais diversas, que possam lhe proporcionar o
desenvolvimento pleno.
Objetivos na educação
infantil
Ø
Sentir-se segura e acolhida no ambiente escolar, utilizando este novo espaço
para ampliar suas relações sociais e afetivas, estabelecendo vínculos com as
crianças e adultos ali presentes, a fim de construir uma imagem positiva sobre
si mesma e sobre os outros, respeitando a diversidade e valorizando sua
riqueza.
Ø
Tornar-se, cada vez mais, capaz de desenvolver as atividades nas quais se
engaja de maneira autônoma, e em cooperação com outras pessoas, crianças e
adultos. Desta forma, desenvolver a capacidade de começar a coordenar pontos de
vista e necessidades diferentes dos seus, socializando-se.
Ø
Interagir com o seu meio ambiente (social, cultural, natural, histórico e
geográfico) de maneira independente, alerta e curiosa. Isto é, estabelecendo
relações e questionamentos sobre o meio ambiente, os conhecimentos prévios de
que dispõe, suas ideias originais e as novas informações que recebe.
Ø
Apropriar-se dos mais diferentes tipos de linguagem construídos pela humanidade
(oral, escrita, matemática, corporal e musical), de acordo com as suas
capacidade e necessidades, utilizando-as para expressar o seu pensamento e as
suas emoções, a fim de compreender e comunicar-se com as outras crianças e os
adultos.
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