sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Conversa demais na sala de aula


Quem fala mais alto mais alto

                                                                                           Rosely Sayão

 Será que temos diminuído nossa capacidade auditiva? Parece que a cada dia precisamos falar mais alto. Não é de se estranhar, já que a poluição sonora dos centros urbanos é cada vez pior e o nosso cotidiano é lotado de barulhos: lojas, bares e restaurantes tocam música em volume alto, e tudo isso faz com que falemos cada vez mais alto.

Como se não bastasse a dificuldade em ter vida privada -hoje quase tudo é público-, até nossas conversas ao telefone vazam para todos os lados porque falamos ao celular em lugares barulhentos e isso nos obriga a aumentar o tom de voz. Resultado: a gritaria é geral, e participamos como observadores de brigas conjugais, de discussões profissionais e até das broncas nos filhos.

As crianças têm aprendido conosco a falar bem alto. Estudos já foram feitos em diversas escolas para medir a intensidade do som. Mesmo sem a voz dos alunos, o ruído é alto demais e colabora para a perda da atenção e da concentração. É que não temos tradição em nosso país de cuidar da acústica escolar: os pisos e as paredes não são elaborados com materiais de isolamento acústico.

Com os alunos dentro, o ruído aumenta. No recreio, algumas escolas que fizeram medições constataram um nível de decibéis considerado prejudicial à saúde. É que nessa hora, ao barulho do entorno escolar, soma-se a gritaria do alunado. Em sala de aula, os professores elevam o tom de voz para serem ouvidos, os alunos os imitam, e quase ninguém mais fala: todos gritam. Em uma pesquisa feita com alunos, mais da metade considera existir uma única saída que permita ouvir a aula toda: sentar-se próximo ao professor. Isso significa que muitos alunos nem sequer ouvem o que o professor diz.

Em casa, muitos pais confundem seriedade ou firmeza com aumentar o volume da voz. Mas não é preciso subir os decibéis para ser obedecido ou levado a sério por crianças e jovens. Aliás, eles podem aprender a falar mais baixo, a regular o volume da voz de acordo com as situações e, principalmente, a ouvir e respeitar as pessoas com quem se relacionam. E, para tanto, é preciso que tenham bons exemplos.

Criamos um falso conceito: o de que a criança fala alto naturalmente e que isso é um sinal de que vive bem sua infância. Muitos adultos consideram que ensinar a criança a falar mais baixo é reprimir sua espontaneidade.

Na verdade, ensinar a criança a falar em tom suave e audível faz parte do ensino da comunicação verbal e é um fator importante do processo de socialização. Para chegar a isso, precisamos colocar em ação nossa capacidade de auto-regulação do tom de voz. Afinal: vamos ajudar o mundo a ser menos barulhento ou vamos continuar a agir como se só fossem ouvidos os que falam mais alto

 Barulho faz Mal à Saúde

A poluição sonora em algumas escolas é tanta que pode levar ao estresse e até a perda de audição. Mas, com medidas simples, é possível diminuir a barulheira na classe:

 Barulho ensurdecedor não é só um jeito exagerado de falar. Com o passar do tempo, uma pessoa exposta diariamente a sons muito altos pode ter a audição comprometida. Máquinas, veículos e aglomerações tornam a poluição sonora cada dia mais intensa. E no ambiente escolar a situação não é das melhores. Se você acha o barulho da sala de aula natural, é bom ficar alerta. A gritaria da turma, somada aos ruídos que vêm da rua, prejudica o bem-estar de todos e deve ser evitada.

Sons e vibrações que ultrapassam os níveis previstos pelas normas legais e que podem causar problemas auditivos irreversíveis ou perturbar as pessoas é o que se chama de poluição sonora. Apesar das leis e das políticas públicas para controlar o problema e dos alertas feitos por especialistas, a poluição sonora ainda não sensibiliza tanto como a do ar ou a da água.

Ruído alto libera adrenalina

"Orelha não tem pálpebra", brinca o engenheiro ambiental Eduardo Murgel, especialista em acústica, de São Paulo. "Enquanto outros órgãos do sentido descansam durante o sono, os ouvidos se mantêm em estado de alerta", explica. A audição funciona como um alarme, e isso têm explicação antropológica: quando o homem vivia em cavernas, ficava atento para ouvir quando um animal se aproximava. Ao perceber o perigo, seu cérebro produzia quantidade extra de adrenalina, deixando o corpo preparado para o combate ou para a fuga.

O barulho sempre foi associado a circunstâncias que causam temor. Hoje o homem não precisa mais se defender de predadores, mas seu sistema de defesa continua o mesmo: sempre que ouve um ruído alto, o nível de adrenalina aumenta, fazendo subir a pressão arterial e gerando estresse instantâneo.

Barulho causa doenças

A longo prazo, o ruído excessivo pode causar gastrite, insônia, aumento do nível de colesterol, distúrbios psíquicos e perda da audição. Provoca ainda irritabilidade, ansiedade, excitação, desconforto, medo e tensão.

Na sala de aula, o professor faz tamanho esforço para ser ouvido que acaba gritando sem perceber. Com isso, fica vulnerável ao aparecimento de laringites e calos nas cordas vocais. Os efeitos da poluição sonora prejudicam a aprendizagem: quando todo mundo fala alto, ninguém ouve nada direito e é difícil prestar atenção.

Falar baixo é uma saída

"Quanto mais alto falam os alunos, mais alto fala o professor e maior é o barulho", diz Eduardo Murgel. Ele recomenda discutir a questão com a turma para que o problema seja resolvido. Uma prática enriquecedora é criar a cultura da "fala mansa". No início da aula, peça alguns minutos de silêncio à turma. Mostre como a classe fica mais acolhedora sem ruídos.

É importante que a garotada entenda o conceito de círculo vicioso - cada vez que um levanta a voz, o colega ao lado vai falar mais alto, o próximo vai berrar e ninguém vai ouvir nada. Para que esse hábito seja modificado, proponha um pacto a partir do qual todos falem sem gritar, de mansinho.

Para atenuar esses efeitos, é importante que professores e funcionários  também entrem na onda do falar mansinho. Todos são exemplos para crianças em uma escola, principalmente em instituições voltadas para Educação Infantil.

Alunos ajudam na solução

Uma iniciativa que deve ser bem-sucedida é a criação de semáforos de papelão feitos pelos alunos. A idéia é indicar o volume de som na classe por meio das cores: verde (pouco barulho), amarelo (alerta) e vermelho (barulho excessivo).

Quem muda as cores é a professora, auxiliada por alunos eleitos pela classe. Eles devem se basear na compreensão da fala da professora pela turma. Quando o vermelho aparece, todos verificam por que o barulho está demais no nível crítico. De acordo com Baring, a turma  sentirá estimulada a responder bem por ter participado do processo.

Você também pode criar seus métodos e códigos.

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